Na véspera dos 100 dias, pais de alunos
fizeram bolo para representar a falta de aulas nas escolas baianas
A greve dos
professores estaduais da Bahia completa 100 dias nesta quinta-feira (19) e,
apesar do tempo, não há perspectiva de resolução do impasse entre grevistas e
governo, situação que deixa parte dos um milhão e cem estudantes fora das salas
de aulas. O "prejuízo" temido pelos jovens e adultos que dependem da
rede de ensino é, principalmente, a perda do ano letivo. Dos 200 dias
determinados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) para a formação
do ano acadêmico, a Bahia não realizou atividades em 60 deles.
“Só fico dentro
de casa, às vezes saio para jogar bola, ou fico no computador, ou às vezes saio
para ajudar meu pai no serviço. Ele trabalha com pintura, solda. Na verdade, eu
acredito que seja mais um ano perdido", afirma Edvan Silva, 15 anos, que
estuda no Colégio Frederico Costa, no bairro Vila Laura, em Salvador. Aluno da
6ª série, ele mora com os pais e uma irmã de 12 anos no bairro de Narandiba.
A Secretaria da
Educação garante que a greve não compromete o ano letivo. Para isso, trabalha
com a alternativa de repor aulas aos sábados e, talvez, em janeiro e fevereiro,
o que tem sido planejado em algumas unidades que já retomaram o calendário.
"Vamos cumprir o ano. Vai prejudicar, de certa forma, o ano e as férias,
mas não trabalhamos com a possibilidade de perda", afirma o secretário da
Educação da Bahia, Osvaldo Barreto.
Tememos que
alunos do programa de Educação de Jovens e Adultos desistam do ano letivo"
José Albertino, professor da UFBA
O coordenador
da pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia
(UFBA), José Albertino, acredita que o ano letivo está sim “muito
comprometido”. “Temos medo agora é que o ano seja cumprido às pressas, com
atividades em equipe ou trabalhos em geral”, avalia. Para ele, nenhuma reposição
de aulas que anexe dois anos letivos poderá repor as aulas com qualidade. “O
que pode haver é a psicologia do massacre, quando um ano é emendado ao outro e
não se dá a oportunidade de alunos e professores se prepararem para um novo
ano”, pontua.
O especialista
acrescenta que grandes períodos de pausa no ano comprometem gravemente o
processo de aprendizado dos alunos. “Nós temos, inclusive, teses de doutorado
que comprovam os prejuízos dos processos de interrupção de aulas”, diz. Entre
os mais afetados, José Albertino indica os estudantes do programa de Educação
de Jovens e Adultos (EJA), ministradas à noite. “Essas turmas têm pessoas de
idades mais avançadas, que trabalham e possuem pouco tempo. Por isso, são as
turmas com maiores níveis de evasão escolar. Nós tememos é que esses alunos
desistam deste ano letivo”, avalia.
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