LUIZ
GAMA, MENSAGEIRO DA ABOLIÇÃO
Durval
Pereira da França Filho
No momento em que se comemora o dia da consciência negra,
22 de novembro, vale uma justa homenagem a um dos maiores mensageiros do
abolicionismo do Brasil, Luiz Gama, um Negro baiano que, segundo as palavras de Rui Barbosa, foi “um coração de anjo,... um espírito
genial, uma torrente de eloquência, um coração adamantino, personagem de
granito, aureolado de luz”.
Nasceu em Salvador, no dia 21 de junho de 1830, filho da
africana liberta Luiza Mahim e de um português que, por motivos óbvios, o filho
não quis identificar. Nasceu de ventre livre, mas o pai, um fidalgo empobrecido
pelo jogo, de péssimo caráter, o vendeu como escravo, quando ele tinha apenas
dez anos de idade.
Luiza Mahim era uma pagã de formação islâmica, que nunca
aceitou a doutrina cristã. Vivia como quitandeira, e foi presa várias vezes
suspeita de envolvimento em movimentos insurrecionais, como a revolta dos malês
de 1835. Em 1837 foi para o Rio de Janeiro e nunca mais voltou à Bahia, embora
o filho a tivesse procurado, sem resultado.
Luiz Gama foi levado para o Rio de Janeiro, onde foi
escravo de um português de sobrenome Vieira, comerciante, por cuja família foi
bem tratado. Contudo, apesar do carinho e dos cuidados que recebia, foi
entregue a Antônio Pereira Cardoso, um negociante e contrabandista que,
posteriormente, foi preso por haver
deixado alguns escravos morrerem de fome
em cárcere privado, e suicidou-se. Depois disso, ninguém queria comprar Luiz
Gama, porque era baiano e os escravos baianos não tinham boa fama. Mesmo assim,
aprendeu a ler e escrever, a trabalhar como copeiro, sapateiro e a costurar
roupas.
Fugiu para São Paulo e lá conquistou a liberdade, aos 17
anos. Em 1848, assentou praça no Exército, depois se tornou tipógrafo e
escrivão da Secretaria de Polícia, de onde foi demitido por integrar o Partido
Libertador. Dedicou-se ao jornalismo e, impedido de matricular-se na Faculdade
de Direito, provisionou-se como advogado, tornando-se defensor da causa dos
escravos e conseguindo a libertação de mais de 500 deles.
Ganhou fama e notoriedade. Foi um dos fundadores do
Centro Abolicionista e do Partido Republicano
de São Paulo e filiou-se também à maçonaria. Era um dos oradores do
Clube Radical Paulistano. Através de sua produção poética, satirizou de forma
violenta as pessoas da Corte. Recebeu o apelido de Bode, por causa de sua cor e
do cavanhaque que usava. Mas na memória do povo brasileiro e, em especial do
baiano, um nome se coloca em realce nessa galeria de guerreiros em favor da
liberdade, da integração e da reabilitação do negro e contra a opressão – Luiz
Gonzaga Pinto da Gama.
Faleceu em São Paulo, de diabetes, no dia 24 de agosto de
1882.
(Durval Pereira da França Filho tem
formação em História e é membro da ALAC – Academia de Letras e Artes de
Canavieiras)
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